quinta-feira, 26 de dezembro de 2024

Exclusão Linguística nas Redes Sociais e o Paradoxo do Rebuscado em Tempos de Emoji

Ah, as redes sociais, esse formidável ergástulo virtual onde todos, de forma equânime, têm voz – desde que saibam utilizá-la no vocabulário telegráfico das abreviações e emojis. Neste peculiar anfiteatro contemporâneo, a exclusão linguística emerge como um espetáculo tragicômico, pois o uso do rebuscado, outrora sinal de cultura e prestígio, foi exaurido pela modernidade digital, reduzido a um eco longínquo entre tuítes e hashtags.

Pensemos: que lugar ocupa o polímata altaneiro, cuja argúcia e gosto por palavras como acrimonioso ou tacanha já não cabem em 280 caracteres? É visto como uma espécie de anacronismo ambulante, um remanescente dos tempos em que argumentar requeria mais do que memes e GIFs de reação. Sob a égide da simplicidade pragmática, o rebuscado é reduzido a “forçação de barra”, o vocábulo culto é rotulado de “esnobismo”, e o raciocínio profundo perde espaço para o sarcasmo lacônico e a cultura da "lacração".

Mas que ironia! Justamente nesses ambientes ditos democráticos, onde todos deveriam se encontrar em condições igualitárias, a língua, este patrimônio autóctone, transforma-se em instrumento de exclusão velada. Usar um termo mais complexo que “ranço” ou “cringe” é receber, sem demora, a invectiva de “pedante”. E, no entanto, o desprezo pelo rebuscado não é em si mesmo um elitismo às avessas? Pois, ao condenar o que transcende a cartilha da comunicação funcional, estabelece-se uma nova forma de hierarquia: o culto ao simplório.

O problema não reside apenas no uso da linguagem, mas na miopia de se rejeitar o que foge ao padrão, seja ele erudito ou vulgar. A exclusão linguística nas redes sociais é o espelho de uma sociedade que transforma o idioma, essa miríade viva e pulsante, em arma para acentuar divisões – e o faz ora com palavras polidas, ora com emojis chorosos. Talvez o maior paradoxo seja este: ao desprezarmos o rebuscado, perdemos uma parte essencial do que torna a língua portuguesa tão exuberantemente humana.

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