quarta-feira, 12 de julho de 2023

Morre aos 94 anos o escritor tcheco Milan Kundera

O escritor tcheco Milan Kundera, um dos grandes nomes da literatura mundial, morreu nesta terça-feira, 11 de julho, aos 94 anos, em Paris, onde vivia desde 1975. A informação foi confirmada por Anna Mrazova, porta-voz da Biblioteca Milan Kundera, em Brno, cidade natal do autor.

Kundera era conhecido por seu estilo de retratar temas e personagens que flutuavam entre a realidade mundana da vida cotidiana e o mundo elevado das ideias. Suas obras misturavam humor, ironia, erotismo e reflexão filosófica sobre questões como a identidade, a liberdade, o amor e a história.

Entre seus livros mais famosos estão “A Insustentável Leveza do Ser” (1983), que foi adaptado para o cinema em 1988 pelo diretor Philip Kaufman; “A Brincadeira” (1967), que foi inspirado em sua própria experiência de ser expulso do Partido Comunista Checo por uma piada considerada antipartidária; e “A Imortalidade” (1990), que explora as relações entre arte e vida.

Kundera nasceu em 1929, em Brno, no número 6 da rua Purkyně, em uma família de classe média. Era filho de Milada Kunderová e do músico Ludvik Kundera (1891-1971), um importante musicólogo e pianista que esteve à frente da Academia Musical de Brno de 1948 a 1961. Kundera, desde criança, aprendeu a tocar piano com o pai e estudou musicologia e composição musical, influências que podem ser encontradas em seu trabalho.

Kundera faz parte de uma geração de jovens checos que tiveram pouca experiência com uma nação democrática no pré-guerra. Sua ideologia foi em grande parte influenciada pela Segunda Guerra Mundial e pela ocupação alemã. Ainda adolescente, Kundera se filiou ao Partido Comunista Checo, que tomou o poder em 1948. Seu ensino médio foi cursado no ginásio de Brno no mesmo ano. Na Universidade Carolina de Praga, estudou literatura e após dois semestres, ele se transferiu para a faculdade de cinema, na Academia Checa de Artes Cênicas, onde teve aulas de direção de longametragens e roteirização.

Em 1950, foi temporariamente forçado a interromper seus estudos por razões políticas. Neste ano, ele e outro escritor tcheco, Jan Trefulka, foram expulsos do Partido Comunista Checo por “atividades antipartidárias”. Trefulka descreveu o incidente em uma de suas novelas, Kundera usou o incidente como inspiração para o tema principal de seu romance A Brincadeira. Em 1956, Kundera foi readmitido no Partido Comunista. 

Em 1970, porém, foi novamente expulso. Kundera, assim como outros artistas tchecos, entre eles Václav Havel, envolveu-se na Primavera de Praga de 1968. O período de otimismo, como se sabe, foi destruído no agosto do mesmo ano pela invasão de tropas soviéticas pelo exército do Pacto de Varsóvia à Tchecoslováquia.

Kundera foi exilado na França, onde vivia desde 1975. Sua cidadania checa foi revogada em 1979. Uma nova cidadania foi fornecida em 2019. Porém, Kundera se considerava um escritor francês e desejava que sua literatura fosse estudada como literatura francesa e como tal classificada nas livrarias.

Kundera recebeu vários prêmios e honrarias ao longo de sua carreira, entre eles o Prêmio Médicis estrangeiro (1973), o Prêmio Jerusalém (1985), o Prêmio Herder (2000), o Prêmio Mundial Cino Del Duca (2009) e o Prêmio Franz Kafka (2020). Ele também foi cotado várias vezes para o Prêmio Nobel de Literatura, mas nunca o recebeu.

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